27 de julho de 2006

CIDADEZINHA QUALQUER

Casas entre bananeiras
mulheres entre laranjeiras
pomar amor cantar.
Um homem vai devagar.
Um cachorro vai devagar.
Um burro vai devagar.
Devagar... as janelas olham.
Eta vida besta, meu Deus.

Carlos Drummond de Andrade

18 de julho de 2006

Sobre política

Um país de coitados jamais acaba suas mazelas

O Brasil é um país de sentimento e cultura patriarcal e por conseqüência vitimizado. Essa é a nossa herança depois de ter sido colônia. Existe enraizado no pensamento da sociedade brasileira o lugar da vitima, do coitado, do filho que precisa de um pai. Ainda somos crianças, e o pior que não é na idade, somos filhos que se recusam a crescer e alimentam o narcisismo de pais que se recusam a nos deixarem crescer.
Estamos sempre reclamando da violência, da pobreza do país, da corrupção e apontamos com facilidade os culpados e os inocentes. Quando chega o ano de eleições somos bajulados e ouvimos que estamos com toda razão e que o próximo governo será mais justo que o anterior, e o fato é que gostamos de ouvir isso. O brasileiro se considera a vitima injustiçada.
O problema disso é que se torna um ciclo vicioso e sem fim, porque a vitima é aquele indivíduo estagnado e sem ânimo para sair do lugar, porque acredita que está onde está por uma injustiça e esta deve ser reparada. Quando ouve um discurso que alimenta suas razões de vitima continua a ser estimulado a ficar onde está e esperar.
A frase “os fins justificam os meios” atribuída a Nicolau Maquiavel, mas que não é dele, (trata se somente de uma inferência sobre sua obra “o príncipe”, onde o mesmo fala sobre maneiras de se manter no poder) expressa bem o que acontece no cenário político do Brasil atualmente. A antiga esquerda, que antes mantinha o discurso da luta, o abandonou, e agora o que se vê é um discurso clichê e populista, mas é isso que faz com que um político se mantenha no poder na nossa nação. Não é de se espantar que não seja o discurso do vamos trabalhar que funciona e sim o do eu vou te dar uma cesta básica porque enfim você é pobre (coitado) e merece.
Enquanto esse sentimento estiver arraigado e não houver um despertar pra luta esse país não irá p/ frente, a vitima nunca sai do lugar. Precisamos entender que trabalho é progresso, e que na situação em que nos encontramos o melhor a fazer não é reclamar de quem está ai e atribuir um culpado as nossas mazelas. Aqui somos todos culpados e inocentes, o que precisamos é de consciência e senso crítico para observar quem se utiliza desse tipo de discurso para se eleger e assim alimenta o sentimento de vitimização da nação e como conseqüência nossa estagnação. Vamos à luta Brasil.