24 de outubro de 2005

Humanidade capitalista

Na portaria de uma penitenciaria juvenil, chega uma pedagoga para fazer uma entrevista na escola da instituição, considerada pela ética capitalista como "humana”, ou seja, boa senhora branca de classe média e que pode consumir, que fora se candidatar a um emprego de orientadora daqueles que são inferiores e marginalizados, e carentes dessa humanidade, ou seja, em sua maioria negros, de classe baixa, e que não aprenderam as regras de contrato social, ou se aprenderam não quiseram se submeter a elas, talvez porque em um país como o Brasil é muito mais propicio que as pessoas com um nível sócio econômico baixo e que são supostamente desprovidos dessa humanidade, ou seja, não são brancos , não são consumidores em potencial e por isso não são humanos, busquem outras formas de emprego que pode lhes proporcionar aquilo que aprendemos durante toda a nossa vida ser o mais importante "o ter", ter o tênis da marca, a jaqueta de couro e etc.
Durante as devidas apresentações na portaria, o medo expresso pela senhora, chega perto de uma garota, que está a esperar também na portaria e pergunta:
O que você faz nesse lugar?
A moça responde com extrema tranqüilidade - Sou voluntária aqui
A surpresa da senhora deixa a menina constrangida - Você é maluca de vir em um lugar desse , você não recebe nada por isso? (acho que ela não conhecia o significado da palavra voluntário, mas tudo bem continuemos).
Você é psicóloga?
- Não, responde a garota.
E a senhora se apresenta da seguinte forma, como se ali houvesse alguém interessado em saber de suas posses, talvez porque elas designassem que ela era uma cidadã de bem e não mãe de um menor infrator.
"Que horror seu guarda, eu tenho pavor desse lugar, minhas filhas estudam no ...., eu moro em um condomínio, meu carro tem o nome do colégio das minhas filhas e o endereço da minha residência, estou de óculos escuros, porque não quero ser reconhecida na rua por qualquer menino desses. O senhor é policial ?
- Não, sou monitor.
E a orientadora entra na instituição.
Ali naquela mesma portaria se encontrava uma humilde senhora, talvez uma mãe que fora levar roupas para um menor, o discurso da orientadora, fez com que os olhos dessa senhora brilhassem , como quem quisesse chorar, e não acredito que tenham sido de alegria e sim de tristeza por ver como o filho que ela amou e ama, é visto, como um ser desprovido de qualquer coisa boa.

Um comentário:

Anônimo disse...

Experiências...
Nossas experiências, e como aprendemos com elas!
Um bom texto.